Carniato Casa de DJ tem memória no décor e na arquitetura

Carniato

Casa de DJ tem memória no décor e na arquitetura

Preto e branco, profundidade e leveza, passado e futuro. Os contrastes equilibram a vida de Paulo Velloso e definem o projeto de sua residência em São Paulo, assinado por Guilherme Torres.

Esta casa tem uma história singular”, avisa o DJ Paulo Velloso. Ele chegou há apenas um mês, quando a reforma de dois anos e sete meses foi entregue, e suspira ao contar. É um local de muito significado. Por 40 anos, foi a residência de sua avó – sediou os Natais mais felizes dos quais se lembra, o casamento de seus pais e reuniões de família com sorrisos largos. Desde 2007, no entanto, data em que a matriarca faleceu, estava fechada. O destino, porém, foi generoso: Paulo ganhou a morada de presente de seu pai.

Após tantas décadas, a construção precisava ser modernizada, naturalmente. O traçado original de Adolpho Lindenberg tinha aspecto colonial, bem compartimentado. Mas a solidez do alicerce surpreendeu Guilherme Torres quando recebeu a missão de revitalizar seus 1.100 m². “A saúde estrutural era imensa. Porém, um lar deve ser adequado à época, ao lifestyle e à sua expectativa futura”, observa o arquiteto. Assim, pouco se alterou na planta. Já a dinâmica dela mudou. Guilherme trabalhou para torná-la mais conectada internamente, com ambientes abertos ao exterior e perfil contemporâneo. “Conseguimos transformar tudo com soluções bem atuais, permitidas pela ótima fundação.

O canto do living traz mesa e cadeira Loos, design Guilherme Torres, da Nos Furniture

A sala de almoço ganha impacto visual com quadro de Juan Francisco Casas, diante da mesa da Tora Brasil rodeada por cadeiras de Jaime Hayon, da Magis

Demolimos algumas paredes, substituímos vigas e abrimos entradas para a luz natural”, diz, citando os vidros que correm do piso ao teto e as esquadrias que se recolhem nas paredes. Hidráulica e elétrica foram moldadas de acordo como estilo de Paulo, que, por ser DJ, vive cercado por devices de som, em todos os cômodos.

A parede de pinho de riga ebanizado do living exibe escultura de Emanoel Araújo, acima de sofá desenhado por Guilherme Torres – quadro (à dir.) de Célia Euvaldo, na Galeria Raquel Arnaud, e, sobre o tapete da Phenicia Concept, mesa de centro comprada em antiquário e escultura Puppy, da Magis, estilizada por Maneco Quinderé

No térreo, a leveza é a sensação maior, com espaços abertos, de um lado, ao jardim com piscina e, do outro, ao espelho-d’água. Subindo para o andar de cima, a área íntima abrange os quartos; acima dela, o terraço que avista uma parte nobre de São Paulo – e está pronto para receber as celebrações que o festeiro declarado ama fazer. A escolha de materiais e as cores dos interiores segue a identidade das residências da família. “Eles gostam de casas muito iluminadas, admiram o preto e branco, e colecionam arte”, observa o arquiteto. O pinho de riga ebanizado, aplicado em algumas paredes, se contrapõe ao branco das outras. O mobiliário, por sua vez, tem muitas peças desenhadas por Guilherme. “Paulo sabia o que queria: uma atmosfera Ralph Lauren. E para este sofá na sala de estar, por exemplo, o tecido com trama dupla e couro camelo traz o contraste ideal à paleta.” O ébano de macassar é outro toque valioso que aparece em alguns móveis e faz parte desse clima.

Na sala de banho, bancada de Corian, do Studio Vitty, e piso de madeira da Neobambu, ao lado da área externa do boxe com seixos da Palimanan

O quarto de Paulo tem cama Vellos e estante, ambas de Guilherme Torres, e mesas laterais de Guilherme Wentz, tudo da Nos Furniture, sobre tapete da Phenicia Concept

Não há divisão entre dentro e fora, uma das marcas do portfólio de Guilherme Torres. “Ter um horizonte aberto é muito importante, dá a sensação de morar bem”, explica. As geometrias e as profundidades das cenas são outros pontos que caracterizam suas obras. “Gosto de excitar a visão e também acredito na casa como um álbum de recordações tridimensional do morador. Por isso, as cicatrizes, marcas e arqueologias vão ocupar o projeto depois da entrega.”

No estar, o sofá de couro camelo, desenhado por Guilherme Torres, quebra a rigidez do preto e branco dos interiores – ao fundo, obra sinética de Mariana Villafane

No dia desta reportagem mesmo havia um almoço marcado – Paulo ama cozinhar – e festas fervilhavam nos planos do DJ. “Sempre tive uma ligação muito forte com a minha avó e vejo aqui como o exato lugar de tantas coisas boas vividas. Existe uma energia muito positiva.” No embalo de My Way, na voz de Frank Sinatra, a casa parece mesmo ansiosa por esse futuro de mais memórias.

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